Palavras trocadas
Palavras da Textura
num comentário em 25/02/2006:
pensas na vida cego para a cegueira
ingenuamente
aceitas tudo
e não aceitas nada
como eu
como outros
pensas muito na vida
pensas mais na vida
do que é desejável.
dir-te-iam as naturezas-mortas
como a mim
ou a outros
dir-te-iam
(que é por isso que deitas as histórias fora)
que esquecesses a histórias
dos teus pais
elas estão mortas
não têm
pais
também se estivesse morta
te censuraria
mas assim
não
assim apanho as histórias do teu chão
e conto-as para mim
como outros
e não me rio das tuas tristezas
e caligrafia torta
pelo menos eu não me rio
nem por fora nem por dentro
contento-me com os joelhos esfolados da tua infância
penso na tua vida como na minha
como outros
não largues todas as histórias
ao vento
isso é tudo despeito
das naturezas-mortas
E sobre as palavras dela,
as minhas palavras:
Não sou, como dizes
um pensador da vida
sou, antes, só por mim
o pensamento da vida
é ela que me pensa
Eu não me dou a esses luxos
de despeitar o tempo
em pensamentos que não fixo,
na vida que se foi;
Não é arrogância,
são apenas dores,
dores e o sofrer escritos
nas histórias lançadas
nos braços do vento
nesses dias de negritude.
Não queiras tais histórias
pejadas de laceração
cortar-te-ás também
no gume das palavras atiradas
estilhaçar-te-ás nos fragmentos
das lágrimas feridas
daquele azul-profundo
(que, bem sabes, odeio
tanto quanto amo)
Ri-te! Ri-te!
Não me importa porquê
Ri-te apenas
na facilidade dos risos puros
Ri-te! Não sabes que
o riso é alimento da alma?
Deixa-me , por favor,
respirar um pouco de ar
descançar esta alma viandante
sofrega de tempo e de viver
faminta de luz
e da loucura incontrolada
do riso simples
E não te preocupes
com as minhas histórias
órfãs no vento
filhas já velhas
do tempo
não são, na verdade,
vontade de despeito
pelos dias de antes;
terão sempre algo que nunca
deixarei de amar:
os sonhos falados
os projectos feitos de tudo
e de nada (não serão estes também sonhos?)
o reflexo do luar nas tardes incontidas
e o riso puro
pertença por direito natural
aos portadores
de almas grandiosas.
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