O comentário da Textura ao meu devaneio sobre o poema dela, também ele um poema, merece aqui lugar de destaque:
textura said...
Posso pensar em acontecimento
Pois a vida só é quando nos acontece
Traçar a verdade
Dizer arrebatamento
ou ápice
São palavras de surpresa
De um somático calor-frio do peito
Que que tal chuva
Que é da natureza
E leva o que não interessa para longe dos olhos
Traz o cheiro de ontem
da terra
E suspiro de hoje
Do fundo do mar do céu
Quando dizes noite,
Não gosto da possibilidade de adeus
As estrelas dão a volta ao espaço e
hão-de voltar
ou as nuvens
hão-de ceder
uma clareira
à lua
E das palavras dela outras me surgiram:
Da surpresa sobra-me
uma pequena réstia
que o tempo levou quase tudo
nos dias da negritude
ficou um pequeno pedaço de surpresa
disfarçada de verde
Que a surpresa o seja
só quando o sentido
a perfizer e então
saberá de novo
ao sal das almas que crêem
No entretanto somo
multiplico
subtraio
e divido
todas as palavras que sei
e crio histórias que me contam
as chuvas de que falas
e os cheiros da terra de ontem
e pesco letras
de azul profundo
(como bem sabes
a minha cor preferida)
nesse mar-céu de anseios
Já não as quero
cansam-me de passado
rasgo-as, as histórias
são milhares, os pedaços ao vento
estilhaços de letras desavindas
Escrevo de novo, tudo
mas sem histórias, quero apenas
deturpar
a virgindade das folhas
e repito em todas
quatro palavras pecadoras:
dias
noites
paixão
(deixo uma linha em branco, intencional)
e escrevo o teu nome.
1 Comentários:
pensas na vida cego para a cegueira
ingenuamente
aceitas tudo
e não aceitas nada
como eu
como outros
pensas muito na vida
pensas mais na vida
do que é desejável.
dir-te-iam as naturezas-mortas
como a mim
ou a outros
dir-te-iam
(que é por isso que deitas as histórias fora)
que esquecesses a histórias
dos teus pais
elas estão mortas
não têm
pais
também se estivesse morta
te censuraria
mas assim
não
assim apanho as histórias do teu chão
e conto-as para mim
como outros
e não me rio das tuas tristezas
e caligrafia torta
pelo menos eu não me rio
nem por fora nem por dentro
contento-me com os joelhos esfolados da tua infância
penso na tua vida como na minha
como outros
não largues todas as histórias
ao vento
isso é tudo despeito
das naturezas-mortas
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