< Miradouro da alma

24 fevereiro 2006





O comentário da Textura ao meu devaneio sobre o poema dela, também ele um poema, merece aqui lugar de destaque:


textura said...

Posso pensar em acontecimento
Pois a vida só é quando nos acontece
Traçar a verdade
Dizer arrebatamento
ou ápice
São palavras de surpresa
De um somático calor-frio do peito
Que que tal chuva
Que é da natureza
E leva o que não interessa para longe dos olhos
Traz o cheiro de ontem
da terra
E suspiro de hoje
Do fundo do mar do céu

Quando dizes noite,
Não gosto da possibilidade de adeus
As estrelas dão a volta ao espaço e
hão-de voltar
ou as nuvens
hão-de ceder
uma clareira
à lua



E das palavras dela outras me surgiram:



Da surpresa sobra-me
uma pequena réstia
que o tempo levou quase tudo
nos dias da negritude
ficou um pequeno pedaço de surpresa
disfarçada de verde

Que a surpresa o seja
só quando o sentido
a perfizer e então
saberá de novo
ao sal das almas que crêem

No entretanto somo
multiplico
subtraio
e divido
todas as palavras que sei
e crio histórias que me contam
as chuvas de que falas
e os cheiros da terra de ontem
e pesco letras
de azul profundo
(como bem sabes
a minha cor preferida)
nesse mar-céu de anseios

Já não as quero
cansam-me de passado
rasgo-as, as histórias
são milhares, os pedaços ao vento
estilhaços de letras desavindas
Escrevo de novo, tudo
mas sem histórias, quero apenas
deturpar
a virgindade das folhas
e repito em todas
quatro palavras pecadoras:


dias


noites


paixão


(deixo uma linha em branco, intencional)


e escrevo o teu nome.

1 Comentários:

Blogger textura escreveu...

pensas na vida cego para a cegueira
ingenuamente
aceitas tudo
e não aceitas nada

como eu

como outros

pensas muito na vida


pensas mais na vida
do que é desejável.
dir-te-iam as naturezas-mortas

como a mim

ou a outros

dir-te-iam
(que é por isso que deitas as histórias fora)
que esquecesses a histórias
dos teus pais

elas estão mortas
não têm
pais
também se estivesse morta
te censuraria

mas assim
não

assim apanho as histórias do teu chão
e conto-as para mim

como outros

e não me rio das tuas tristezas
e caligrafia torta

pelo menos eu não me rio
nem por fora nem por dentro

contento-me com os joelhos esfolados da tua infância

penso na tua vida como na minha
como outros

não largues todas as histórias
ao vento

isso é tudo despeito
das naturezas-mortas

25 fevereiro, 2006 22:16  

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